22 de fevereiro de 2009

Emigração Vêneta – A Longa Viagem



Preparativos para Viagem

Tomada a decisão de emigrar e dado o nome ao agente representante de quem promovia a viagem, a providência inicial era conseguir o passaporte, necessário para toda a família e para tanto necessitava de uma declaração obtida junto a prefeitura da sua cidade. Também tinham que providenciar a obrigatória vacina. Eram meses de preparativos com a venda de tudo que não podiam levar consigo. Roupas, objetos de uso pessoal e ferramentas, eram acondicionadas em grandes caixas de madeira: baús, arcas, sacos. Faziam encontros com os que ficavam, oportunidade em que se despediam de amigos e familiares, não esquecendo da obrigatória última visita ao cemitério. Visitavam também o páraco, do qual pediam a benção e a sua interseção para afrontarem a longa travessia. No dia marcado para iniciarem a viagem, com destino ao porto, despediam-se dos familiares e bem cedo partiam banhados em lágrimas, davam uma derradeira e demorada olhada para trás e seguiam confiantes no seu destino. Chegavam a estação ferroviária e junto com tantos outros que lá se encontravam, seguiam para o porto de Gênova. Para a grande maioria esta viagem até a estação ferroviária já se constituia na distância mais longe que se afastaram das suas cidades. A viagem de trem também era deconhecida para muitos o que gerava medo e apreensão. Em cada estação que o trem parava era a mesma cena: dezenas de homens, mulheres e crianças, subiam carregados de bagagens colocadas em malas de papelão, sacos ou baús de madeira. O destino de todos era o Porto de Gênova onde, pela primeira vez, a grande maioria vinha a conhecer o mar.




A espera no Porto

Chegados ao Porto de Gênova, quase sempre, deviam esperar alguns dias, as vezes algumas semanas, pela partida do vapor que os levaria para a tão sonhada terra “della cucagna”, a prometida América. Durante o período de espera da partida, os emigrantes se viam desamparados e eram submetidos a toda sorte de provações, vendo muitas vezes, os seus poucos recursos economizados, delipendiados por uma gama de aproveitadores, especuladores e ladrões. Roubos de passaportes, dinheiro e bagagens eram constantes. O preço dos alimentos e dos albergues na área do porto eram inflacionados, por comerciantes desonestos, causando muita fome e doenças.


A Travessia do Oceano

Chegada a hora do embarque, o movimento intenso e o barulho de vozes, ordens gritadas e apitos, em torno do vapor, deixavam muito nervosos os emigrantes que se amontovam para não perder a chamada. No barco seguiam as ordens recebidas dos marinheiros encarregados e se dirigiam em grupos aos porões fétidos e sufocantes da terceira classe a eles destinados, onde os esperavam catres com palha, onde ficariam amontoados e nenhuma privacidade. Algumas famílias, para não serem dividas, voltavam dos porões e optavam em viajar na coberta do navio, ao descoberto, onde ali, ao menos, se podia viajar juntos e respirar um ar melhor. Estes suportaram frio intenso e calor sufocante, além dos perigos dos fortes ventos durante as tempestades em alto mar. Os navios no início da grande emigração ainda eram lentos e despreparados veleiros. Depois, vieram aqueles com motor a carvão, estes quase sempre navios de carga, adaptados as pressas para transportar pessoas. A situação higiênica a bordo era muito precária, sem nenhum conforto viajavam com muitos animais vivos que viriam a ser abatidos para servirem de alimentação durante a viagem. Sem médico a bordo, o perigo de epidemias era constante e, de fato, inúmeras ocorreram dizimando muitas vidas, quase sempre de crianças e idosos, cujos corpos eram então jogados ao mar, para o horror das suas famílias. A lembrança da grande travessia ficou indelevelmente marcada na memória dos nossos antepassados, persistindo até hoje nas narrativas dos seus descendentes. Foi o episódio mais marcante na vida dos pioneiros.


A Chegada na Terra Prometida

Ao chegarem ao porto de destino, no Brasil, país destino de milhares de emigrantes vênetos, muitos logo perceberam que tinham sido enganados, iludidos por falsas promessas. Alguns chegaram vinculados à contratos de trabalho que não deixavam margens para arrependimentos ou mesmo possibilidades de retorno. Outros, sem meios de subsistência, não podiam se dar ao luxo de retornarem, mesmo porque na terra natal já não possuíam mais nada. Os desafios que deveriam enfrentar eram ainda muito grandes até chegar a tomar posse do tão sonhado pedaço de terra.

Fonte: La Piave FAINORS Federação Vêneta - Erechim RS
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta